A aposta em Bitcoin de El Salvador: Entre o ideal e a realidade

Em 2021, fiquei surpreso quando vi o anúncio do presidente Bukele nas notícias. Um pequeno país da América Central de repente começa um experimento financeiro de ponta no mundo. Para ser honesto, no início pensei: "mais uma ousada tentativa de um país em desenvolvimento de desafiar os E.U.A.".

Mas, na verdade, a razão pela qual El Salvador adotou o Bitcoin como moeda de curso legal era muito mais pragmática. Mais de 20% do PIB do país provém de remessas do exterior, e as taxas de envio são exorbitantes. 70% da população não possui sequer uma conta bancária. Para um país assim, o Bitcoin poderia se tornar um salvador.

O governo estava sério. Instalou cerca de 250 caixas eletrônicos de Bitcoin em todo o país e até fez uma campanha onde, ao registrar o aplicativo chamado Chivo Wallet, se recebia Bitcoin no valor de 30 dólares. Era como dizer a uma criança: "Quer ver como isso é útil?".

No entanto, a reação no local foi fria. Quando perguntei no mercado de San Salvador, muitas lojas não aceitam Bitcoin e não sabem como usá-lo. Para os cidadãos, deve parecer: "Por que temos que ser obrigados a usar essa complicada moeda digital de repente?"

O FMI também pediu a suspensão do uso do Bitcoin como moeda legal devido ao risco de volatilidade dos preços. Mas o vice-presidente está confiante. Ele se gaba: "O Bitcoin é o mais confiável do mundo". Será que é mesmo? Pode-se chamar de "confiável" algo que oscila mais do que o mercado de ações?

O interessante é que este país não vê simplesmente o Bitcoin como um objeto de investimento. A estratégia deles também inclui a criação de leis que facilitam a aquisição de nacionalidade para estrangeiros que doam ao governo em Bitcoin, atraindo assim investidores e empreendedores. É como se estivessem tentando criar um "paraiso das criptomoedas".

Para ser honesto, ainda sou cético em relação aos resultados deste experimento. Acredito que apostar a economia de um país em um ativo tão instável é imprudente. No entanto, entendo o desejo de se afastar de uma economia dependente do dólar. Até agora, embora os ricos e os investidores estrangeiros tenham se beneficiado, é questionável quanto a vida das pessoas comuns melhorou.

O experimento de El Salvador continua. O mundo todo aprenderá com seus sucessos e fracassos. Mas, no final, quem se beneficiará e quem perderá, isso ainda ninguém sabe.